30.1.08

Fuma: dor




A pedido de um leitor muito especial do "Atribulações Locais", publico este texto da autoria de Bertolino de Carvalho, escrito propositadamente para o efeito. Agradeço a contribuição do nosso fiel e esclarecido leitor, bem como do seu amigo escritor e "fuma: dor".

"Se há, como todos conhecemos, médicos que fumam, qual a razão para tentar esconder a existência de fumadores entre os desportistas – particularmente entre os golfistas? Só que estes (como nós) beneficiam da circunstância de desenvolverem a sua actividade ao ar livre, em espaços amplos e saudáveis como são os campos de golfe. Sinto-me, por isso, um privilegiado.


Mas como será, pergunto, entre médicos ou juízes se eles próprios aplicarem à justa e a si próprios essa terrível, hipócrita e injusta lei 37/2007? Será que vamos ver cirurgiões de bata branca à porta dos hospitais e juízes de toga mais negra que a nicotina sentados na escadaria do tribunal, todos à espera que passe um qualquer mendigo de beata na boca para lhes acender o cigarrito?

Quando vejo e ouço legisladores e médicos de charuto ou cachimbo escondido atrás das costas a debitarem sobre os perigos do consumo do tabaco, vem-me à memória a obra (aconselhável) do admirável dramaturgo russo Anton Tchekov: «Os Malefícios do Tabaco», que vale sempre a pena reler. Tanta palavra, tanta tinta, tanto rancor, para quê?

E também não deixa de me vir à memória – nos terríveis anos em que nos mandavam para a guerra - a imagem daquelas senhoras-bem que no cais de embarque nos enchiam os dolmans com maços de cigarros e promessas de longa vida. Já lá vão mais de 30 anos, pegaram-me o vício e, desde então, nunca mais parei de fumar. Até hoje. Hoje, não há guerra felizmente, mas continua a haver uns senhores que agora nos metem as mãos nos bolsos sempre que ousarmos acender um cigarro - se não for para nos sacar avultados impostos, é, concerteza, para nos aplicar uma pesada multa ao abrigo da tal 37/2007. Tudo pela nossa saúde.

Moral da estória: Mesmo sem fumar continuamos a arder.

Bertolino de Carvalho"



1 comentários:

E como ardemos...