7.9.07

Como explicar a verdade sobre Madeleine McCann a uma criança?



O ultra mediatizado desaparecimento da pequena Maddie, em 3 de Maio último, mobilizou um país que desde logo se solidarizou incondicionalmente com a dor do casal McCann.

Nos últimos quatro meses habituámo-nos a conviver diariamente com a fé, a perseverança e o fino trato dos pais que sempre se recusaram a aceitar que a sua filha poderia estar morta. Os portugueses renderam-se à sua simpatia, partilharam as suas emoções e rezaram por um desfecho favorável à pequena Maddie.

Um surpreendente volte-face nas investigações levou à constituição de Kate e Gerry McCann como arguidos, suspeitando-se que estejam ambos envolvidos no desaparecimento da filha.

Sempre me recusei a acreditar que os pais - aparentemente bem formados e com uma vida estabilizada - pudessem vir a ser culpabilizados por esta tragédia. No limite admiti que não foram prudentes quando deixaram três crianças de tenra idade sozinhas em casa. A tese do rapto convenceu-me. Acreditei na inexplicável bestialidade de um qualquer tresloucado. Nunca admiti que os McCann pudessem ter conhecimento ou participassem noutro qualquer desfecho.

O julgamento popular já está em marcha. Os aplausos de ontem deram lugar aos apupos de hoje. A confirmarem-se os meus piores receios, pela minha parte, vou querer esquecer rapidamente este caso. Há questões que nunca vou conseguir entender.

Como se pode conviver tanto tempo com a mentira levada a este extremo?
Perante esta encenação, em quem vamos nós acreditar no futuro?
Como explicar a verdade sobre Maddie a uma criança?

MFQ




9 comentários:

João Fialho disse...

Amigo Manuel Filipe.

À sua última pergunta, nesta fase só nos cabe responder assim: não se pode dizer "a verdade" pela simples razão de ainda não se saber "a verdade".

Nem sei se alguma vez chegaremos a saber qualquer verdade sobre este caso. Apenas sabemos, ou julgamos saber, alguns indícios. Todos eles confusos.

Aguardemos ... sem antecipar juizos ou julgamentos. Parece-me ser o mais sensato.

ALG disse...

Cedo, muito cedo para retirar qualquer tipo de conclusões, e o facto da eventual constituição da Mãe na situação de arguida, não permite concluir que foi responsável ou teve intervenção no que quer que tenha ocorrido. Usualmente a constituição de arguido tem como objectivos, permitir a concretização de determinados processos que de outro modo não poderiam ter lugar.
Quanto ao julgamento popular, vale o que vale, i.e., muito pouco (depressa se passa dos aplausos e manifestações de solidariedade, para os apupos como frisou) mas ainda vamos ter que aguardar até saber, não a verdade de como tudo se passou, mas a verdade da justiça.
Nesta altura, existe muita especulação e todas as hipóteses se mantêm, apenas a PJ e o MP terão já excluído algumas!

Verdadeiramente triste é o desaparecimento da Maddie aqui os Pais, independentemente de algum deles ter tido algo a ver com o seu desaparecimento/morte, para mim que sou pai, cometeram logo à partida, um "crime" fundamental, o de não vigiarem os filhos como o deveriam ter feito segundo um padrão de puro BOM SENSO!

Cumprimentos e bom fim de semana.

ALG disse...

Só mais uma "achega", por vezes são as próprias testemunhas a requerer a sua constituição como arguidos, para "melhorar" a sua posição face ao processo, nomeadamente para garantir uma posição garantistíca de direitos processuais, que de outro modo não teriam.
Notem que não sei se foi o que aconteceu ou não, no caso concreto, apenas alertar para que em termos do Direito, arguido não é sinónimo de culpado.

Cumprimentos

BENFICA FC disse...

Caro MQF

Na minha opinião, este caso do desaparecimento da Madeleine McCann, e todos os seus contornos, tenha ou não um desfecho, é inédito a nível mundial. Não encontra eco semelhante em nenhum outro caso de suposto rapto ou mesmo homicídio, negligente ou voluntário. Será lembrado durante muito tempo, constituindo uma espécie de exemplo e de estudo de caso, em todos os planos: mediático, de investigação criminal e forense, de psicologia colectiva, da sociologia da comunicação, do cinema (acho que chegará lá, mesmo que não tenha desfecho conclusivo), etc.

Confesso que nunca me deixei convencer pela tese do rapto (ainda que ligado ao tráfego de crianças para fins pedófilos). De igual modo, estou céptico em relação à tese do homicídio por negligência com ocultação de cadáver.

A questão é esta. Alguma coisa se passou. A menina desapareceu.

Pessoalmente, tendo a raciocinar por padrões comportamentais. Reconheço que, neste caso, dada a especificidade do mesmo e o volte-face que ele já conheceu, essa forma de pensar pode não ser a mais adequada.

Em todo o caso, para mim, desde o início que este caso tem todos os contornos para seguir o padrão mais comum. Uma menina desapareceu, não voltará a ser encontrada, nunca ninguém (a não ser quem tem a ver com o facto do desaparecimento) saberá o que se passou, e haverá sempre teorias para tudo. E, claro, cada teoria para o desaparecimento terá sempre os seus partidários (É um X file).

Neste momento as coisas estão muito confusas. Tenho acompanhado o caso através dos meios de comunicação portugueses e da Sky News.

É impressionante ver a feira de teorias que se instalou. Quantas mais forem as teorias, e mais acérrimos os seus defensores, mais condições existem para que o caso permaneça obscuro. É, parece-me, esse o seu destino.

Quanto à dissonância cognitiva que se instalou junto da "opinião pública e da mediática" portuguesa e inglesa, é um fenómeno normal de psicologia social. À falta de explicações e de evidências as pessoas tendem a acreditar na teoria mais convincente a cada instante (e acreditam baseadas nos seus preconceitos. Por isso, não é fácil acreditar à partida que uns pais católicos, branquinhos, bem formados, com três filhos tão bonitos fossem capazes de fazer algo de hediondo. Mas criminalmente essa é uma hipótese provável). Neste momento, mesmo em Inglaterra, a teoria prevalecente é a de que os pais têm alguma coisa a ver com o desaparecimento. Também é normal que, em casos destes, aqueles que anteriormente foram os que mais acreditaram no rapto e que andaram a divulgar fotografias, sejam agora os que querem ver os pais condenados sem qualquer prova.

O mediatismo que os pais da menina conseguíram dar ao caso é impressionante. Não são pessoas comuns. Nem neste, nem noutros pontos de vista. Mas aquilo que um sabe sobre o desaparecimento da menina é exactamente o que o outro sabe.

A polícia portuguesa estará longe de ter provas conclusivas. Por isso está a apostar na pista do "padrão comportamental". Normalmente, quando algo de mau acontece a uma criança, estão envolvidos familiares, conhecidos ou amigos. A polícia está a jogar no desgaste psicológico do casal, porque acredita na teoria da morte por negligência e no envolvimento dos pais. Pode ter sorte. Duvido que tenha. Com outras pessoas que não os McCann, estas ou outra formas de violência poderiam dar resultado.

Para mim, o que me parece provável é que durante muito tempo continuem a parecer pessoas a dizer que viram Madeleine McCann. Que, por razões diplomáticas, os pais de Madeleine não sejam julgados. E que o buraco negro sobre os factos seja cada vez maior. Mas, claro, ninguém quer acreditar nesta possibilidade. As pessoas querem saber o que se passou. Se não lhes for possível, acreditarão em alguma coisa.
Abraço

Anónimo disse...

Escrevi um pequeno post sobre este caso.

Como explicar a uma criança? Já é dificil faze-lo a um adulto, quanto mais. :/

bordadagua disse...

Ainda "a procissão" vai no adro!....

Em directo a Sky News e a Sic estão a transmitir o "regresso" ao Reino Unido ou a fuga à justiça portuguesa dos arguidos do caso Madelenne!.....

A máquina de informação do governo inglês está a trabalhar muito bem.

Por cá vamos aprendendo alguma coisa com os subditos de Sua Majestade!

Liguem a TV e vejam como os McCann"
fugiram " do País.

Dark Shadow disse...

eles quanto mais areia nos atiram para os olhos mais as pessoas gostam

A verdade não se explica. Talvez nem exista. A verdade de Madeleine...às crianças não pode contar-se a verdade. Ou só se conta a verdade que sabem entender. As crianças, dizia o poeta, "são o melhor do mundo"; e há verdades escuras e nauseantes. Fétidas.
Por que razão uma criança tem de conhecer "ao natural" as verdades que nos enrodilham a alma só de pensá-las?

MFQ disse...

O mistério do desaparecimento de Maddie está em permanentemente actualização. Conhecem-se novos dados a cada hora que passa o que é só por si envolvente mas reduz significativamente a probabilidade de acertarmos no diagnóstico da ocorrência.

Quando escrevi o post, em 07-09-2007, procurei conferir-lhe apenas o meu cunho emocional face aos últimos desenvolvimentos conhecidos. Coloquei de lado a vertente factual ou investigacional que deixo para outros melhor situados para o fazerem.

Congratulo-me pelo elevado número de comentários de grande qualidade aqui reproduzidos pelos nossos leitores. A todos o meu reconhecido agradecimento.

MFQ