5.10.07

O mercado dos "limões"




É

possível que você já tenha ouvido esta frase: “quando se compra um carro novo, assim que sai do stand perde logo 10% do seu valor”. Damos por nós a pensar: “mas porquê? Não parece haver razão para isso.” Pois, mas a verdade é que há mesmo razão para isso. E até já houve uns senhores, aqui há uns anos atrás, que se preocuparam com este tipo de questões.



Imagine o amigo leitor que acabara de entrar num stand com a firme intenção de comprar um carro do modelo XYZ. Nesse instante, por um qualquer motivo que você desconhecia, entrava no stand outra pessoa que tinha acabado de comprar ali o último carro exactamente do modelo XYZ. Mas, assim que chegou com o carro à rua, já se tinha arrependido, fosse qual fosse o motivo. Perante esta situação, esse tal comprador sugeriu que você lho comprasse.

Você comprava-o? Se sim, por que preço? Pelo mesmo preço que o outro comprador tinha dado por ele? Humm… ... … complicado. Se fosse eu, desconfiava. E o mais certo é que a si lhe acontecesse o mesmo. Mas porquê? Então o carro não tinha acabado de sair do stand? Pois tinha. Mas por certo que você só o compraria se conseguisse um bom desconto. Digamos, aí uns 10% de desconto. Ou mais.

Este facto não tem nada de excepcional. E até tem uma explicação lógica, que nada tem a ver com o Registo de Propriedade ter averbado um proprietário antes de si. Tem sim a ver com uma coisa chamada “Informação assimétrica”, que é um nome complicado para uma coisa simples: você tem a noção de que não detêm toda a informação detida pelo seu interlocutor (neste caso, o tal comprador arrependido) e age ou reage em conformidade com essa situação.

Posto isto, receia que algo lhe escape. Que algo esteja mal com o carro e você não saiba disso. Você sabe que tem menos informação e receia que a informação que lhe falta seja relevante. Daí que só aceite comprá-lo se lhe pagarem para correr esse risco que você sabe existir. O valor de correr esse risco é o montante do desconto que pretende. Os tais 10%, ou mais se o conseguir.


É também em parte por esta razão que os conhecidos “Carros de Serviço” têm sempre um bom desconto em relação ao seu preço em novos. O que acontece quer tenham 1 mês ou 6 meses de uso ou então 10, 1000 ou 10.000 Kms andados. Isso é quase irrelevante. A baixa no preço que você obtém na compra de um carro de serviço deve-se, em parte (mas só até certo ponto), à possibilidade da existência da tal “Informação assimétrica". Não pensava que era por o vendedor ser uma pessoa tipo mão-largas, pois não?

Por fim, deixo-lhe um pequeno desafio: tente descobrir, se ainda não souber (claro!), o que é isso dos "limões"? Não! Não tem nada a ver com os citrinos que você conhece, mas podem ser igualmente "azedos".

Estas matérias não se aplicam apenas ao mercado de carros em 2ª mão. Aliás, a prova disso mesmo está nas diversas "análises de mercados com informação assimétrica" que estiveram na origem da atribuição do Prémio Nobel da Economia, no ano de 2001.

(já viu como a Ciência Económica se pode aplicar no nosso dia-a-dia, em coisas que nem imaginamos?)


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2 comentários:

Anónimo disse...

Permita-me que insira duas novas variáveis ao seu interessantíssimo post, uma a que eu dou o nome de “Chico Espertice” e que é uma forma mais frequente e popularucha, e desonesta algumas vezes, de “Informação Assimétrica”, e outra que tem a ver com a regra da oferta e da procura.

Começando pela segunda, direi que todo o seu discurso se pode inverter, e o usado ou o semi-novo, independentemente do que estejamos a falar, pode valer mais, ou substancialmente mais, do que o seu homólogo novo; falando de automóveis, tempos houve, ainda não muito recuados e devido a uma lei que limitava as importações, em que os tais carros de serviço e os usados recentes, eram vendidos a preços substancialmente superiores aos dos seus homólogos novos.

A discrepância entre a elevada procura e a reduzida oferta influenciavam positivamente o valor do usado ou semi-novo, situação que era responsável pelos preços verdadeiramente especulativos que eram praticados no mercado da época.

A tal “Informação Assimétrica” a que faz referência pode funcionar, e funciona muitas vezes, não como uma arma depreciativa de valor, mas como uma arma valorativa, de acordo com a situação que se vive em cada momento; o mercado da bolsa é paradigma do que acabo de dizer, andando as cotações, não só ao sabor da procura mas, sobretudo, das expectativas de quem detém mais e melhor informação.

Ora muito bem, é exactamente aqui que entra a outra variável, a tal da “Chico Espertice” a que me referi, e que leva as pessoas a comprar um bem, algumas vezes sem necessitarem dele, tentando exercer alguma chantagem sobre quem vende -se está a vender é porque precisa de dinheiro, é o raciocínio imediato -, oferecendo valores muito abaixo dos preços de mercado, na expectativa de poderem vir a vender, algum tempo depois, a um bom preço e “sacar o deles”.

Entre “Informação Assimétrica” e a “Chico Espertice”, muitas vezes podem funcionar em complementaridade, prefiro muito mais a primeira desde que, obviamente, a informação esteja ao alcance de todos ainda que, pelas mais diversas razões, nem todos a dominem, e daí a assimetria.

Anónimo disse...

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